O conceito de “primeira linha de cuidado” é fundamental para a organização de sistemas de saúde que priorizam a proximidade, a acessibilidade e a resolutividade no atendimento aos pacientes.
Ele se refere à capacidade de pontos de contato iniciais – como farmácias e clínicas – oferecerem triagem, diagnóstico precoce e intervenções básicas que podem evitar complicações mais graves e reduzir a sobrecarga em hospitais e emergências.
Internacionalmente, exemplos notáveis destacam o sucesso das farmácias nesse papel. No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde (NHS) criou o Pharmacy First, programa que integra farmácias à atenção primária, visando triagem e manejo de condições de saúde, como infecções respiratórias e diabetes.
Nos Estados Unidos, existem mais de 1.700 clínicas instaladas dentro das lojas – ligadas a gigantes como CVS e Walgreens – oferecendo consultas rápidas e acessíveis com médicos e enfermeiras, além de exames laboratoriais e vacinas.
No Brasil, essa tendência tem ganhado força graças à capilaridade impressionante das farmácias e à melhoria regulatória. Segundo relatório da Clinicarx, somente no primeiro semestre de 2024 foram mais de 7,2 milhões de serviços prestados, em 5,1 mil farmácias presentes em 1.150 municípios.
Com a demanda crescente por serviços descentralizados, as farmácias estão assumindo um papel essencial, com impacto já visível em áreas como vacinação, exames rápidos e programas de adesão a tratamentos.
Figura 1: serviços de saúde prestados nas farmácias no Brasil. Dados do estudo publicado pela Clinicarx, referentes ao primeiro semestre de 2024.
Por que as farmácias estão se tornando a primeira linha de cuidado?
A capilaridade das farmácias no Brasil é um de seus maiores diferenciais. São mais de 92 mil estabelecimentos, presentes em áreas urbanas, rurais e comunidades onde outros serviços de saúde muitas vezes não chegam. Esse alcance permite que farmácias sejam o ponto de contato inicial com o sistema de saúde para milhões de brasileiros.
Regulação
Vários fatores impulsionam essa transição para a farmácia como “primeira linha de cuidado”. Entre os principais, destaca-se a Lei 13.021/2014, que reconheceu as farmácias como estabelecimentos de saúde, autorizando a oferta de serviços clínicos.
Complementando, resoluções da Anvisa, como a RDC 197/2017 e a RDC 786/2023, regulamentaram a aplicação de vacinas e ampliaram a possibilidade de realização de exames rápidos, consolidando a farmácia como um ponto acessível para cuidados essenciais.
Custo e acessibilidade
A crescente demanda por cuidados acessíveis também desempenha um papel decisivo. Com custos elevados em hospitais e tempo de espera em emergências, as farmácias oferecem uma alternativa eficiente, rápida e economicamente viável para resolver condições de baixa e média complexidade.
Essa evolução é sustentada por tecnologias, programas de suporte ao paciente e a integração de serviços como telessaúde, que permite um atendimento híbrido e resolutivo.
Dados mostram que até 80% dos casos que chegam ao pronto-socorro poderiam ser resolvidos na atenção primária. Com a expansão dos serviços de telessaúde nas farmácias, essa demanda pode ser redirecionada de maneira eficiente, reduzir custos e tempos de espera.
Serviços oferecidos pelas farmácias na primeira linha de cuidado
Exames rápidos e triagem
As farmácias brasileiras têm se consolidado como centros de triagem e diagnóstico ao oferecer exames rápidos que promovem a detecção precoce de diversas condições de saúde.
Serviços como hemoglobina glicada, perfil lipídico, PSA, Covid-19 e Dengue já estão amplamente disponíveis e regulamentados pela Anvisa (RDC 786/2023). No primeiro semestre de 2024, esses exames apresentaram um aumento de 382% em relação ao mesmo período de 2023, o que demonstra sua relevância no diagnóstico e acompanhamento clínico.
Além da praticidade e rapidez, esses exames permitem que pacientes iniciem tratamentos de maneira ágil e com menos complicações, o que otimiza a jornada de saúde.
Para doenças endêmicas, como a dengue, as farmácias desempenham um papel estratégico, tendo realizado mais de 500 mil testes durante a epidemia em 2024, com 25% dos casos diagnosticados positivos.
Vacinação e prevenção
As farmácias também se destacam como polos de vacinação no Brasil. Desde a regulamentação da RDC 197/2017, todas as vacinas disponíveis no mercado podem ser aplicadas nesses estabelecimentos, e atualmente já existem mais farmácias oferecendo vacinação do que clínicas privadas no país.
No primeiro semestre de 2024, mais de 35 tipos de vacinas foram administrados, com um aumento de 31% no volume de doses em relação ao ano anterior.
Serviços como vacinação contra Influenza, Meningite e Herpes Zoster lideram a demanda e fortalecem o papel das farmácias na imunização da população. Essa acessibilidade amplia a cobertura vacinal e a prevenção de doenças, gerando impactos diretos e positivos na saúde pública.
Telessaúde e consultas farmacêuticas
A integração da telessaúde com os serviços farmacêuticos tem transformado o acesso a profissionais de saúde. A partir de triagens realizadas nas farmácias, os pacientes podem ser encaminhados para consultas médicas por telemedicina, permitindo a resolução de casos de baixa e média complexidade sem a necessidade de deslocamento para unidades de pronto atendimento.
A participação do farmacêutico consentida pelo médico pode auxiliar no desfecho clínico, visto que teremos o farmacêutico trabalhando em parceria com o médico e fornecendo dados clinicos como pressão arterial, peso, saturação de oxigênio e temperatura corporal.
Acompanhamento de pacientes crônicos
O acompanhamento contínuo de pacientes com doenças crônicas é um dos serviços mais impactantes oferecidos pelas farmácias na primeira linha de cuidado.
Acompanhamento feito por farmacêuticos a pacientes com hipertensão, diabetes mellitus e dislipidemia, por exemplo, tem o poder de mudar o engajamento dos pacientes com os tratamentos.
Benefícios das farmácias como primeira linha de cuidado
- Redução da sobrecarga em hospitais: as farmácias ajudam a descentralizar o atendimento de saúde. Serviços de “primeira linha de cuidado”, como triagem, consultas rápidas e telemedicina permitem resolver até 85% dos casos de baixa complexidade diretamente no ponto de atendimento, evitando filas desnecessárias em emergências hospitalares. Isso pode trazer economia relevante para operadoras de saúde, por exemplo.
- Acesso ampliado e inclusivo: com milhares de estabelecimentos no Brasil, as farmácias alcançam áreas remotas e comunidades carentes onde a infraestrutura hospitalar é limitada.
- Redução do absenteísmo corporativo: programas de saúde corporativa – como vacinação e acompanhamento de saúde realizados em farmácias – ajudam empresas a melhorar a saúde de seus colaboradores. Vacinas contra Influenza, por exemplo, podem reduzir faltas relacionadas a doenças sazonais em até 40%. Com menos dias de afastamento, temos maior produtividade e redução de custos com licenças médicas, tornando esses programas altamente vantajosos para o setor empresarial.
- Pessoalidade na relação entre farmacêutico e consumidor-paciente: a farmácia é o estabelecimento de saúde mais frequente e recorrente na vida do paciente, portanto, a proximidade com o farmacêutico (que as vezes se comporta como consumidor) gera empatia, afinidade e um sentimento de segurança.
Futuro das farmácias no Brasil
As farmácias estão se consolidando como verdadeiros hubs de saúde, desempenhando um papel importante na “primeira linha de cuidado” da saúde dos brasileiros. Elas democratizam o acesso à saúde, otimizam resultados para os pacientes e oferecem soluções práticas para operadoras, empresas e outros atores do sistema de saúde.
Para acelerar essa transformação, a Interplayers oferece soluções inovadoras, como a Clinicarx e o Conecta Médico, que integram serviços clínicos e tecnológicos de forma eficiente. Essas ferramentas tornam as farmácias ainda mais resolutivas ao conectar todos os elos do ecossistema de saúde.
Se você atua em uma indústria farmacêutica ou operadora de saúde, entre em contato conosco para que possamos explorar juntos as oportunidades dessa importante frente de inovação da saúde brasileira.